quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Tenho vontade de encher parágrafos e mais parágrafos com pontos de interrogação. É tudo o que eu penso em escrever. Tenho mil perguntas para fazer e parece que quanto mais respostas, mais dúvidas surgem. Quanto mais me conheço, menos sei o que fazer de mim. Quero explodir, mas me contenho, quero me impor, mas me escondo, quero gostar, mas racionalizo. Onde vou chegar se não me soltar? Tenho medo de ficar presa nessas linhas. Tenho medo do que eu escrevo se tornar realidade. E se eu ficar muito Verônica? E se eu tiver que ser alguma coisa pra sempre, porque o que está no papel não se apaga mais, e estou escrevendo quase certezas sobre mim o tempo todo?
' Verônica H.
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Estou repleta de urgências para o amor, mas não foi preciso o desespero você veio sem improviso e por inteiro numa dessas esquinas, propicias para os encontros. Se deixar, quero virar uma saudade boa dormindo no teu olhar mais bonito. Me deixar à beira de um verso interminável tatuando o teu meio-sorriso no meu início. Tanto sonho nesses tantos futuros que enlaçam a ínfima chance da presença e do cheiro. Quem diria que seria você acontecendo na minha frente e para sempre trazendo um arrepio numa alegria, e qualquer coisa eterna derrubando um punhado de tempo.
' (Priscila Rôde & Cáh Morandi)
"Que todo mundo tenha um amor quentinho. Descanso pro complicado do mundo. Surpresa pra rotina dos dias. A quem esperar. De quem sentir saudades. Um nome entre todos. O verso mais bonito. A música que não se esquece. O par pra toda dança. Por quem acordar. Com quem sonhar antes de dormir. Uma mão pra segurar, um ombro pra deitar, um abraço pra morar. Um tema pra toda história. Uma certeza pra toda dúvida. Janela acesa em noite escura. Cais onde aportar. Bonança, depois da tempestade. Uma vida costurar na sua, com o fio comprido do tempo."
' (Briza Mulatinho)
Eu gosto da distância. Da sua ausência, da minha saudade. Da vontade, da chamada perdida, da música decorada. Dessa distância da minha boca pra sua. De sentir o seu hálito quente, de sentir você respirar, roçar meu rosto, te olhar de perto e às vezes corar. De não pensar, parar de rir. De brigar e partir. De xingar e excluir. Dar meia volta e te abraçar. Eternamente. Fantasiar ao seu lado, ser realista e até fria, ser contraditória, estúpida, tosca, envolvida. Desenhar seu rosto, gravar e esquecer esse momento, assim simultaneamente. Enlouquecer. Esquecer. Envolver. Falar, falar, falar. Silenciar. Ignorar, aprender. Estar com você é contraditoriamente indescritível.
' (do blog: .notas.)
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Você se cansa de amores incompletos, de amores platônicos, de falta de amor, de excesso disso e daquilo. Se cansa do “apesar de”. Se cansa do rabo entre as pernas, da sensação de estar sendo prejudicado, se cansa do “a vida é assim mesmo”. Você se cansa de esperar, de rezar, de aguardar, de ter esperanças, cansa do frio na barriga, cansa da falta de sono. Você se cansa da hipocrisia, da falsidade, da ameaça constante, se cansa da estupidez, da apatia, da angústia, da insatisfação, da injustiça, do frenezi, da busca impossível e infinita de algo que não sabe o que é. Se cansa da sensação de não poder parar.
(Pc Siqueira)
As coisas que restam sobrevivem num lugar da alma que se chama saudade. A saudade é o bolso onde a alma guarda aquilo que ela provou e aprovou. Aprovada foram as experiências que deram alegria. O que valeu a pena está destinado à eternidade. A saudade é o rosto da eternidade refletido no rio do tempo. É para isso que necessitamos dos deuses, para que o rio do tempo seja circular.
Rubem Alves
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
"E, mesmo quando o vento consegue derrubar um dos meus pilares, me alegra ver que tenho gente pronta pra me reformar. São remendos, rebocos, estacas e escoras. É cimento, é argamassa, é durepóxi, pode ser até goma de mascar. Guardo comigo esses remendos, bem como a fisionomia de todos que se prontificaram a me arrumar. E sempre que faz sol eu saio pela rua pra erguer paredes que caem a todo minuto. Retribuir."
' |Lucas Silveira|
terça-feira, 14 de setembro de 2010
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
Ela perguntou como é que eu tive certeza de que aquela escolha era a mais acertada. Respondi que nunca tive, que não tenho até agora. Porque tem coisas que a gente, simplesmente, não sabe. Decidi ali na tentativa de fazer o melhor e fui. Com fé. Sim, fé e não certeza. Vontade que desse certo. Ou, de pelo menos, que não fosse motivo para me arrepender para todo o sempre. Em alguns momentos, deu certo. Noutros, me arrependi para todo o sempre. Agora, acho que me conformei e que é assim e pronto, não tem mais volta e tudo bem. Tudo bem, de um jeito ou de outro, que a vida e o tempo consertam as coisas.
' Briza Mulatinho
domingo, 12 de setembro de 2010
Antes que se perdesse para sempre no infinito, em seu último sopro de esperança, ela foi procurá-lo em seu castelo para dizer que estava morrendo. Mas era de saudades. Temendo que as chamas do amor tivessem se apagado, levou nas mãos uma lamparina. "Quero falar imediatamente com o Monstro de Chocolate, essa separação não está dando certo, ele vai ter que reconsiderar!" - disse ela ao vigia da torre de controle. O vigia a fitou com um olhar de soslaio, meditando sobre o passado, presente e futuro. O fogo que vinha da lamparina esculpia uma silhueta angulosa alaranjada com preto, que lhe conferia uma semelhança inequívoca com um anzol descaído. Um lobo ereto em ofensiva sagital, perdido entre as volutas da fumaça cinza, obrigando-a a alterar a sua rota na mira do arremesso. Como quem não desiste de tentar, ela, por sua vez, ignorou aquele imenso vulto montanhoso - do medo. E antes que ela lhe desse um empurrão, o portão se abriu o suficiente para delinear o perfil de ermitão do Monstro de Chocolate. Foi então que ele a levou para a sua torre aurífera. A ternura com que ele a olhou foi de comover o céu que explodiu cadenciado de estrelas, num festival de luzes que escorreram pela Via-Láctea inteira. Você está brilhando – ele disse, reconhecendo-o em seus olhos. Ela tentava se proteger do encontro daquele olhar iluminado, mas eles a atravessaram com a fúria de um trovão e a velocidade de um raio. Fulminante. Tanto tempo sem vê-lo, sem tocá-lo, temeu que fosse apenas um vulto resplandecente que mudava de cor num esboço giratório, fazendo o mundo tremer num surto evanescente, para não dizer o coração, que, vertiginoso, dilatava dentro daquele corpo tímido que confessava amor em cada gesto. Os golpes dopados daquela voz resvalavam da boca, subindo até o pé dos seus ouvidos, fazendo com que o silêncio viesse abaixo andar por andar nos degraus do desejo. Estavam em transe. A boca os procurava, contando os minutos que faltavam para um beijo que se acontecesse os consumiria por inteiro. Passaram a noite no fogo das expectativas. Não queriam incendiar-se pela pressa. Suportaram as chamas com a paciência dos imortais, e a estratégia das paixões que agitam o mundo. Enterraram aqueles dias de separação num reencontro libertador. Fascinados. Despiram-se apenas com os olhos, enquanto a muralha invisível do orgulho se desmoronava à sua volta. As chamas daquele fogo os consumia lentamente. Não se importaram em morrer um pouco, se fosse de amor.
' Pipa
"Paz é o plantio de boas ações. É o cuidado com as palavras. É a paciência no meio da tormenta. Paz é uma sensação para poucos. É uma sensação que não é quente, não é frio e muito menos morno. Te faz leve e segura. Segura pra dizer que suas verdades mudam com o tempo. Mas seus valores não."
' (Vanessa Leonardi)
"Nasceste no lar que precisavas; Vestiste o corpo físico que merecias; Moras onde melhor Deus te proporcionou; De acordo com teu adiantamento. Possuis os recursos financeiros coerentes com as tuas necessidades, nem mais, nem menos, mas o justo para as tuas lutas terrenas. Teu ambiente de trabalho é o que elegeste espontaneamente para a tua realização. Teus parentes, amigos são as almas que atraíste, com tua própria afinidade. Portanto, teu destino está constantemente sob teu controle. Tu escolhes, recolhes, eleges, atrais, buscas, expulsas, modificas tudo aquilo que te rodeia a existência. Teus pensamentos e vontade são a chave de teus atos e atitudes... São as fontes de atração e repulsão na tua jornada vivência. Não reclames nem te faças de vítima. A mudança está em tuas mãos. Reprograma tua meta; Busca o bem e viverás melhor. Embora ninguém possa voltar e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim."
' Chico Xavier
"O que ela quer é falar de amor. Fazer cafuné, comprar presente, reservar hotel pra viagem, olhar estrela sem ter o que dizer. Quer tomar vinho e olhar nos olhos. Ela quer poder soprar o que mora dentro, o que não cabe, que voa inocente e suicida. Ela quer o que não tem nome. Quer rir sem saber de quê, passar horas sem notar, quer o silêncio e a falação. Ela quer bobagem. Quer o que não serve pra nada. Quer o desejo, que é menos comportado que a vontade. Ela quer o imprevisto, a surpresa, o coração disparado, o medo de ser bom. Quer música, barulho de e-mail na caixa, telefone tocando. Ela tem muito e quer mais. Quer sempre. Quer se cobrir de eternidade, quer o oxigênio do risco pra ficar sempre menina. Ela quer tremer as pernas, beijo no ponto de ônibus e a milésima primeira vez. Quer cor e som, lembrança de ontem, sorriso no canto da boca. Ela quer dar bandeira. Quer a alegria besta de quem não tem juízo. O que ela quer é tão simples. Só que ela não é desse mundo."
' (Cris Guerra)
"A vida não é um questionário de Proust. Você não precisa ter que responder ao mundo quais são suas qualidades, sua cor preferida, seu prato favorito, que bicho seria. Que mania de se autoconhecer. Chega de se autoconhecer. Você é o que é, um imperfeito bem-intencionado e que muda de opinião sem a menor culpa."
' Martha Medeiros
sábado, 11 de setembro de 2010
E a minha veia artística se expressa muitíssimo bem nos dias em que eu quero fingir estar gostando, e fingir estar contente, e fingir que me divirto quando tudo não passa de uma noite e nada mais. Acontece que o romance vem se infiltrando pelas frestas mais pífias e quando eu me dou conta eu estou fugindo de novo da possibilidade e alegando que você não quis ficar comigo. A necessidade de ser amada entre o quente do beijo e o vácuo da separação das bocas se junta com o eterno medo que eu tenho de ser amada e aí eu tremo, e sinto frio, e minhas bochechas queimam porque o tesão é quente, mas a espera pelo acerto é torturantemente fria. E eu acabo idealizando muito o passado, esperando muito do futuro e conseguindo viver pouco do presente, simplesmente pelo fato de que eu passo a maior parte do meu agora pensando em tudo o que seria e não é.
' Rani Ghazzaoui
"Chega em mim sem medo, toca no meu ombro, olha nos meus olhos, como nas canções do rádio. Depois me diz: — “Vamos embora para um lugar limpo. Deixe tudo como está. Feche as portas, não pague as contas nem conte a ninguém. Nada mais importa. Agora você me tem, agora eu tenho você. Nada mais importa. O resto? Ah, o resto são os restos. E não importam”.
' - Caio
Meu Deus! Como é engraçado! Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço... uma fita dando voltas. Enrosca-se, mas não se embola, vira, revira, circula e pronto: está dado o laço. É assim que é o abraço: coração com coração, tudo isso cercado de braço. É assim que é o laço: um abraço no presente, no cabelo, no vestido, em qualquer coisa onde o faço. E quando puxo uma ponta, o que é que acontece? Vai escorregando... devagarzinho, desmancha, desfaz o abraço. Solta o presente, o cabelo, fica solto no vestido. E, na fita, que curioso, não faltou nem um pedaço. Ah! Então, é assim o amor, a amizade. Tudo que é sentimento. Como um pedaço de fita. Enrosca, segura um pouquinho, mas pode se desfazer a qualquer hora, deixando livre as duas bandas do laço. Por isso é que se diz: laço afetivo, laço de amizade. E quando alguém briga então se diz: romperam-se os laços. E saem as duas partes, igual meus pedaços de fita, sem perder nenhum pedaço. Então o amor e a amizade são isso... Não prendem, não escravizam, não apertam, não sufocam. Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço.
' Mário Quintana
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
“Eu tenho vontades e pensamentos confusos, e se fosse diferente,
eu sei que não estaria falando de mim.
Eu tenho os sonhos mais loucos e os mais lúcidos...
Tenho os maiores desejos...
Tenho algo aqui em mim que não me deixa calar...
E talvez seja por isso, que você me enxerga com outros olhos.”
Dizia a ele, enquanto se olhavam naquela chuva forte.
' (do blog: bebi saudade a semana inteira)
E eu sem mais sentir o aroma escuro da solidão. Dei de ombros, que fique. Deu-se que ela resolveu ir, desaforada. Me presto a carregar suas malas lotadas de capim seco. Seu vestido esvoaçando melancolias. Lamento não poder esperar que ela se apequenine no horizonte balançando seu lenço bordado de mágoas. Tenho meus passos atrasados em minha direção. E ainda estou à uma estação daqui. Um caminho sem marcas no chão. Não há mais o que chorar pelas folhas caídas, secas e amareladas, nada há nisso de triste, ainda que a tristeza pense que é. Foi só um vento rezador capinando tempos envergados. O outono com suas mãos ramosas desmanchando o presente. E eu revirando os rascunhos do futuro, como um arroubo de probabilidades armando sobre mim um bote certeiro. Tudo é apenas novíssima página em branco. E eu tomando a caneta por mim. Desvirando as palavras. E eu montando de volta em mim. Alforriando as asas... Há tanto grudadas junto ao corpo. E eu economizando tudo, menos a alma...
' Ziris
Lizzy: Você ainda tem as chaves?
Jeremy: Sim, sempre me lembro que me disse
sobre nunca jogá-las fora,
sobre nunca fechar as portas para sempre.
Lizzy: Às vezes, mesmo quando se têm as chaves,
essas portas não podem ser abertas.
E mesmo que a porta seja aberta,
a pessoa que procura
talvez não esteja mais lá.
(do filme: Um Beijo Roubado)
Jeremy: Sim, sempre me lembro que me disse
sobre nunca jogá-las fora,
sobre nunca fechar as portas para sempre.
Lizzy: Às vezes, mesmo quando se têm as chaves,
essas portas não podem ser abertas.
E mesmo que a porta seja aberta,
a pessoa que procura
talvez não esteja mais lá.
(do filme: Um Beijo Roubado)
Em muitos trechos do caminho, às vezes bem longos, carregamos muito peso na alma sem também notar. A gente se acostuma muito fácil às circunstâncias difíceis que às vezes podem ser mudadas. A gente se adapta demais ao que faz nossos olhos brilharem menos. A gente camufla a exaustão. A gente inventa inúmeras maneiras para revestir o coração com isolamento acústico para evitar ouvi-lo. A gente faz de conta que a vida é assim mesmo e ponto. A gente arrasta bolas de ferro e faz de conta que carrega pétalas só pra não precisar fazer contato com as nossas insatisfações e agir para transformá-las. A gente carrega tanto peso, no sentimento, um bocado de vezes, porque resiste à mudança. Até o dia em que a alma, cansada de não ser olhada, encontra o seu jeito de ser vista e de dizer quem é que manda.
' (Ana Jácomo)
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Sou cheiα de mαniαs. Tenho cαrênciαs insolúveis. Sou teimosα. Hipocondríαcα. Rαivosα, quαndo sinto-me αtαcαdα [...]. Mαs não imponho α minhα pessoα α ninguém. Não imploro αfeto. Não sou indiscretα nαs minhαs relαções. Tenho poucos αmigos, porque αcho mαis inteligente ser seletivo α respeito dαqueles que você escolhe pαrα contαr os seus segredos. Então, se sou chαtα, não incomodo ninguém que não queirα ser incomodαdo. Chαteio só αqueles que não me αchαm umα chαtα, por isso me querem αo seu lαdo. Acho sim, que, às vezes, dou trαbαlho. Mαs é como ter um Rolls Royce: se você não quiser ter que pαgαr o preço dα mαnutenção, mude pαrα um Pαssαt.
' Fernαndα Young
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
Dessa vez não vou evitar dizer o que está na minha cabeça só porque eu sei que minha mente vai negar no dia seguinte, não fugirei de palavras bonitas porque quem diz não é uma pessoa perfeita, não arrumarei mil defeitos pra brigar contra as novecentas e noventa e nove qualidades, não desviarei meus olhos por medo de ter minha mente lida, não sumirei por medo de desaparecer, não vou ferir por medo de machucar, não serei chata por medo de você me achar legal, não vou desistir antes de começar, não vou evitar minha excentricidade, não vou me anular por sentir demais e logo depois não sentir nada, não vou me esconder em personagens, não vou contar minha vida inteira em busca de ter realmente uma vida. Dessa vez não vou querer tudo de uma vez, porque sempre acabo ficando sem nada no final. Estou apostando minhas fichas em você e saiba que eu não sou de fazer isso. Mas estou neste momento frágil que não quer acabar. Fiquei menos cafajeste, menos racional, menos eu. E estou aproveitando pra tentar levar algo adiante. Relacionamentos que não saem da primeira página já me esgotaram, decorei o prólogo e estou pronta pro primeiro capítulo.
' - Verônica H
Como me equilibrar entre a fonte e o desejo, entre o não e o sim que escorre no canto da boca. Por que a vida pra mim ainda é feita de sentir colado, de ler com lágrimas nos olhos, de adeuses, chegadas e de vários erros espalhados pelos (en)cantos da página tentando ser feliz de algum jeito. Não que eu entenda, nunca soube como fazer isso - também. Mas que eu nunca saiba em que capítulo me perdi, em que verso ainda posso me encontrar com todo aquele prumo que me antecede enquanto penso. Me aceito. Não aprendi a ter pela metade o que de mim ainda resta. Incertezas.
' (Priscila Rôde)
Se o olhar sabe encontrar o que precisa, o coração sabe o que sentir. Mas é com o tempo que a gente aprende a escutar o que vem de dentro. Sem muitas certezas, claro. Certeza mesmo a gente tem é do fim. Da morte. E pros afortunados, da velhice. O tempo aqui vai dando seus sinais. Nada grave. Pelo contrário, tudo melhor. Envelhecer faz a gente ter noção mais clara das coisas. Depois de muito tempo você percebe o que é importante pra você. O que faz você ser importante. E coloco tudo na balança. As festas que você foi que não tinham nada a ver com você. Mas você ia. Os carnavais que nunca gostou, mas você pulava. Os beijos sem nomes e telefones errados. Os caras errados que você pensava que eram os certos. Isso não tem rótulo. Pessoa certa e pessoa errada. O moço certo não tem rótulo. Ele simplesmente te quer. E aprendi, quero alguém que me queira. Os sintomas da idade te denunciam nessas escolhas. Dos moços da sua vida até a qualidade da sua comida. É um tal de verificar informações nutricionais no verso. Colesterol. Carboidratos. Gorduras. A qualidade de tudo na sua vida. Qualidade é uma palavra de gente grande. Pra mim é. De gente madura o suficiente pra fazer escolhas. Inclusive a de ficar sozinha. Por ser uma boa companhia pra você mesma. Às vezes, a melhor. Mas tudo tem seu preço e amadurecer não fica fora disso. Você fica mais exigente. Paga mais caro pelo que é melhor. Pelo lugar melhor. Pela roupa melhor. Você exige qualidade! Você não quer mais roupas que desbotam na primeira lavada. O material tem que ser de primeira linha. Você quer um moço de primeira linha. Não àquele que te encontra na festa e te esconde por um tempo pra te pegar depois. E sim àquele que quer te encontrar no sábado a noite nem que for dentro da sua casa. Que te liga antes de sair. E não àquele que liga a meia noite pra saber onde você está. Esse, que evita pronunciar o seu nome pra não correr o risco de te confundir com outra. Daí ele te chama: ouw! Ando nessa fase de descoberta comigo mesma. Curtindo essa nova fase da vida. De melhoras. De boas companhias. Inclusive a minha. Jogando fora os velhos papéis. Dando mais tempo pros pensamentos bons. Dando mais importância pra quem me quer bem e feliz. Reciclando. Amadurecendo. Acreditando. Transformando. Casando comigo mesma um relacionamento que dura para sempre.
' Vanessa Leonardi
terça-feira, 7 de setembro de 2010
Que ela saia por aí florindo os olhos com toda essa cor de esperança e as mãos prontas pra enxugar qualquer errinho que ouse cair dos olhos. Caiu feio Moço, mas levantou. Porque a vida fica ainda mais bonita de lá do alto do coração e o tempo... Ah, esse faz passado rapidinho. A verdade é que ela tem um medo danado de morrer assim fora de si, nesse chão. Seus medos doem o pé de quem pisa com verdade e não recua no primeiro soluçar. Mas olha, o amor aprende a ser próprio. E perdoa.
' (Priscila Rôde)
Não, não pense que é sempre bom, não sou α-todα-boα, α todα αlegre o tempo todo, α todα αmorosα constαntemente. Eu sou estrαnhα, tenho gestos e pensαmentos e encαnαções e neurαs e filosofiαs viαjαntes e temperαmento sαlgαdo e todα umα série de e's que não consigo αjustαr αqui, αgorα, prα você, tαlvez por não sαber αjustá-los nem prα mim. Mαs deixα isso tudo prα lá, eu e α minhα estrαnhice, estrαnhezα, estrαnhαgem, estrαnhαmento, estrαnhαção. Estrαnhα αção. É isso αí, sou cheiα de estrαnhαs αções. Umα delαs é tentαr explicαr o sentido de umα coisα que nem sentido fαz.
' Clαrissα Corrêα
Vá para onde eu possa te buscar. Vá para o lado claro da rua sem saída. A porta de entrada do descaso é tão longa, lá tem um breu oco de tempestade noturna. Carrega tuas frases compostas de urgências. Leva tua mochila lotada de amor e abra teu caderno com meu nome no meio da travessia para o desespero. Estou te empurrando de volta para esse penhasco de idéias fixas. Maltrate esse desgosto. Use tua calma. Te proíbo de não me sentir por perto. Existe teu cheiro aqui nos meus ombros estreitos. Tua fala mansa faz carinho em meus gritos mudos. Tens um caminho largo para seguir. O caminho que tú me entregas, me desfaz. E agora, se te reencontro em pedaços? É imenso esse meu apego por ti. É exausta essa minha irritação, é gélida e não me leva a você. A noite me cala com uma bofetada. Deito cercada de livros jogados pela cama. Tua aparição é doce. A noite canta com doçura através de um sono longo de pedra. Eu me sinto quebrável, é de papel minha solidão e rasga. É melhor te cercar em pensamento. Te tocar com a ponta dos dedos. Te fazer visível. Tô ocupando um espaço meu aqui, nesse teu beco de separação. Nunca pensei que pudesse ir assim tão solto. Levou um pedaço dessa minha alegria anestesiada de culpa. Tem tantas coisas que deixei ir com você. Eu pedi vá, mas volte... Você olhou para trás quando gritei teu nome, jogou um sorriso pro vento me trazer, beijou a noite fria e partiu sombrio. E cada lágrima frenética é hoje aquilo que ainda não consigo falar. Esse dissabor engasgado em meu peito grita por ti. Estou indo meu bem, eu disse pra não andar tão longe. Estás no clarão dos meus olhos e te vejo inteiro.
' - Ju Fuzetto
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Ela não soube dizer se a aparição do que tem fome de olhar esclareceu ou confundiu ainda mais as coisas. Mas, duvidei por um instante que a presença dele em sua vida fosse obra do acaso. Viver é um susto. Mas você pode fazer dele um suspiro, quando encontra a direção. Pensava naquele homem como feitiço. Mas foi só até descobrir que ele era uma maldição.
' - Pipa
Eu lhe peço tamanha paciência. Tenho uma insegurança imensa.
Quero abraçar o mundo, mas não consigo abraçá-lo.
Quero uma revolução, pequena, mas minha.
Gostaria sinceramente de ser indiferente a ele, mas não consigo.
Espero que tudo isso mude.
Espero que eu consiga aprender a te enxergar exatamente do jeito que você é, ou não é.
Sei lá, me leva.
' (do blog - .notas.)
Quando eu me vejo assim, pequena e oprimida, não sou Verônica. Aliás, nesses casos, Verônica me olha com desprezo e ri. Abaixou a cabeça mais uma vez, idiota. Nunca vai ser igual a mim. Verônica é fria e se rebela. Não aceita ordens se não concordar com seus motivos, questiona e argumenta pra conseguir o que quer. Eu não. Fico calada e dou razão. Perco oportunidades pra manter a paz. Ao caralho com a paz. É de mentira mesmo. É uma hipocrisia filha da puta. É harmonia fingida e exigida pelas aparências. Verônica me ensinou a falar palavrões. Alivia. Ensinou a reclamar, mentir, atuar, seduzir. Só falta colocar o aprendizado em prática. Só falta agir sem me esconder nesse nome. Sou Verônica no grito. Quando não pergunto antes de fazer. Quando me acabo de dançar e bebo mais que um copo. Sou Verônica sorrindo, quando pouco me importo com a opinião dos outros. Verônica me toma nos braços quando minto meu nome, idade e profissão só por diversão. É uma fora da lei. Despedaça corações e sorri experiente enquanto eu me culpo por fazer alguém sofrer mais uma vez. Verônica escreve, atua, fotografa, dança, canta. E eu a invejo. Ela vive num lugar quentinho e seguro dentro de mim e só aparece quando quer. Ela só fala o que quer e só convive com quem gosta. Não tem obrigações nem escrúpulos, não sofre e não engole sapos. Não aceita desaforos de ninguém. Quando ela aparece me dá forças e quando vai embora me deixa jogada. E eu a invejo. Porque no fundo eu sei que eu projetei minha verdade numa personagem que é tudo o que eu tenho medo de ser.
' Verônica H
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
- E você, por que desvia o olhar?
- Porque eu tenho medo de altura.
Tenho medo de cair para dentro de você.
Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas,
cordilheiras vistas do alto, em miniatura.
Então, eu desvio os meus olhos para amarrá-los em qualquer pedra no chão
e me salvar do amor.
Mas, hoje, não encontraram pedra.
Encontraram flor.
E eu me agarrei às pétalas o mais que pude,
sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos,
dentro dos seus olhos.
' Rita Apoena
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