quinta-feira, 2 de setembro de 2010



Quando eu me vejo assim, pequena e oprimida, não sou Verônica. Aliás, nesses casos, Verônica me olha com desprezo e ri. Abaixou a cabeça mais uma vez, idiota. Nunca vai ser igual a mim. Verônica é fria e se rebela. Não aceita ordens se não concordar com seus motivos, questiona e argumenta pra conseguir o que quer. Eu não. Fico calada e dou razão. Perco oportunidades pra manter a paz. Ao caralho com a paz. É de mentira mesmo. É uma hipocrisia filha da puta. É harmonia fingida e exigida pelas aparências. Verônica me ensinou a falar palavrões. Alivia. Ensinou a reclamar, mentir, atuar, seduzir. Só falta colocar o aprendizado em prática. Só falta agir sem me esconder nesse nome. Sou Verônica no grito. Quando não pergunto antes de fazer. Quando me acabo de dançar e bebo mais que um copo. Sou Verônica sorrindo, quando pouco me importo com a opinião dos outros. Verônica me toma nos braços quando minto meu nome, idade e profissão só por diversão. É uma fora da lei. Despedaça corações e sorri experiente enquanto eu me culpo por fazer alguém sofrer mais uma vez. Verônica escreve, atua, fotografa, dança, canta. E eu a invejo. Ela vive num lugar quentinho e seguro dentro de mim e só aparece quando quer. Ela só fala o que quer e só convive com quem gosta. Não tem obrigações nem escrúpulos, não sofre e não engole sapos. Não aceita desaforos de ninguém. Quando ela aparece me dá forças e quando vai embora me deixa jogada. E eu a invejo. Porque no fundo eu sei que eu projetei minha verdade numa personagem que é tudo o que eu tenho medo de ser.

' Verônica H

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