segunda-feira, 8 de novembro de 2010



O sol com seu calor, me chama. Toda essa brisa in-primavera de alguma forma desconhecida, magnetiza. Desperta aquela esperança adormecida, quase esquecida aqui dentro. Fé, fé, fé... repito três vezes, que é para dar sorte ou apenas acreditar firmemente. Sigo esperando que o melhor chegue, assim, de improviso. Mas que chegue logo, é o que peço em silêncio. É tanto brilho aqui fora, luz convidativa, que desperta encanto dentro da gente. Tempo de flores e amores. Do novo. De se-fazer-novo. Roubo esse impulso, olho para cima, procuro inspiração e continuo a minha caminhada atrasada. Caminho por um tempo, mas não resisto. Uma sombra discreta me convida. Sento, desligo a música que me embalava e procuro por meu livro, tão ausente ultimamente. Vejo pessoas sorrindo e conversando. Brinco com suas expressões, em análise constante. Ao longe, noto um grupo de rapazes. Alguns sentados, outros em pé mesmo. Gargalhadas e vozes disputando o silêncio da manhã intensa em calor. Sempre fui uma observadora de gestos e manias alheias. Gosto de desvendar o desconhecido dos outros, e gostei de ficar ali, esquecida do tempo e esquecida de mim, por alguns minutos, analisando minuciosamente cada movimento de tantos. Foi quando notei você, em troca, me estudando. Tentando invadir minhas barreiras pré-inventadas com cuidado. Por seus olhos firmes, cor de jabuticaba, devorava minhas ansiedades, dramas e traumas. Fundo, parecia querer me descobrir por inteira. É, meu livro de repente se torna muito mais interessante do que vocês, estranhos. Reli a mesma página cinco vezes. Deves ter percebido meu embaraço por não conseguir passar a mesma folha por alguns minutos. Nunca apanhei tanto da minha concentração, fugitiva. Uma disputa, na verdade, já perdida. O proibido sempre se torna bem interessante, e mesmo me impondo a não te olhar, meu instinto curioso sutilmente, pelo oblíquo dos olhos, corria para a sua roda. Logo sentia os seus e voltava em fulgor para as mesmas palavras grafadas no papel, deixada segundos atrás. Eu ria sozinha pelo meu desconcerto, um riso frouxo. Mas você, não. Sério, sempre sério, enquanto todos a sua volta sorriam. Seus amigos perceberam sua indiferença e acompanhando o foco dos seus olhos, me encontraram. Me encolhi ligeiramente, fechei o livro, balancei a cabeça, tentando organizar os pensamentos, e o abri novamente. Ouvi um riso baixinho, curto, cantado pelo ar. Pareceu ser o seu. Você notou minha timidez e desconforto por tantos olhares em mim. Minha loucura gritava querendo confirmar. Mas não, resisti, e por um tempo fiquei ali, embaralhando as letras tão certas daquela página que continuava aberta, insistindo em ser lida. Era até um pecado não dá verdadeiro sentido para aquelas que tão carinhosamente foram escolhidas. Desistindo, eu enfim guardei as muitas histórias ali contidas. Decidi entrar na sua brincadeira. Algo em mim, me forçava a ficar ali, anestesiada por minhas emoções e suas sensações. Sem conseguir olhar para qualquer outro lugar, só olhei para você. Era você, eu soube desde o início. Era você, só você. Ainda sem jeito, te olhei fixamente e descobri as mãos mais perfeitas que um dia vi. Rústicas, em desenho delicado. Desejei as minhas, tão pequenas e frágeis, perto das suas. Seu queixo, rígido, em minha direção, te entregava ao mesmo impulso e nervosismo que eu. Sorri, sem perceber, balançando a cabeça, como se tudo não passasse de um simples desvaneio. Você me mostrou o sorriso torto mais encantador. Sincero, desajeitado, quase cerrando seus olhos. O mesmo riso antes escondido. Meu corpo todo parou um segundo, e no outro sentiu os impulsos acelerando. Minha cabeça, acompanhando teus lábios, se inclinou também. Você continuou sorrindo, gostando, como eu. E no seu sorriso percebi: eu estava perdida. Perdida em você!

' (thammy – do blog menina bordada)

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