quarta-feira, 18 de agosto de 2010



Então ela fez diferente. Decidiu que aquela seria a última tristeza de sua vida. E comprou uma fábrica de sonhos desativada. Se deixou guiar pelo vento, de modo que ele levasse todas as coisas ruins para bem longe. Essa fábrica de sonhos ficava ao alto de uma montanha verdejante, que se vista de cima das colinas lembrava um jardim épico e impenetrável. Muito embora em seu presente nunca tivesse visto nada disso. É que ela se cansou daquela tristeza de fundo. Porque descobriu que ela ofuscava sua alegria. Aquela fábrica tinha duas portas gêmeas à entrada. E tudo o que ela precisava para se abastecer era a luz do sol. Como ele teimava em se esconder. Ela rabiscou sóis por toda parte. Com sorrisos ternos. Destes que só podem ser desenhados pelas mãos de uma criança. Nos dias de chuva, acendia velas para iluminar as coisas de dentro. E candeias para iluminar o que vinha de fora. E fez isso até achar o equilíbrio. E descobriu que tudo ia ganhando vida aos pouquinhos. Que mesmo as paredes desmoronadas tinham sua beleza. E as mãos de amor com que as tocava eram capazes de refazê-las, para voltar a ser abrigo dos corações cansados. É preciso acreditar. Porque se você acredita é tudo verdade. E descobriu num ‘Canto de detalhes’ "que toda possibilidade dependia do ângulo que ela esperasse o amanhecer". E virou uma eterna manhã. Eu a vejo daqui. Nesse trabalho de reconstrução daquela antiga fábrica de sonhos. Eles ganham tons cada dia mais dourados. E eu sei que ela nunca mais vai voltar para as noites de lua. Porque lá ela se esquece do inverno. E imagina que ainda é verão.


' Pipa

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