quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Como se estivéssemos largado a torneira aberta. Por dias. Semanas. Ouvindo a água pingando. Batendo na louça, dentro da pia; no ralo, durante a madrugada. Mas como se tivéssemos tido preguiça de nos levantar da cama. De deixar o quente das cobertas. Tirar a cabeça do amassado do travesseiro. De calçar os chinelos e andar até a cozinha para dar mais meio giro. Apenas metade de uma outra volta que acabaria com o ruído. Com o gasto de água. Com o barulho dos pingos batendo na louça. No canto do prato. Na ponta da faca. No ralo, de madrugada. Vazamento esvaziando o reservatório por descaso. Litros e litros pelo cano por nossa culpa. Não, não foi de repente. Não foi surpresa. Nosso amor secou aos poucos, gota a gota. E nós ouvimos todos os pingos.
' Eduardo Baszczyn
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