segunda-feira, 23 de agosto de 2010



Ainda cinzento. Mas é dia aqui dentro. Um pingo fresco de chuva me acariciou o rosto obrigando-me a abrir os olhos. E os gritos terríveis da noite passada escoaram pelos ouvidos, arrancando-me do meu delírio amoroso. Só tenho a lembrança do seu sim incondicional. Enxuguei as mãos e o peito com um linho molhado. E me levantei da cama. As palavras me purificam em parte. Meu coração ainda bate precipitadamente. Mas não é mais por ele. E sim por um trovão que ribombou ao longe. Cambaleante. Dei uns passos inseguros em direção a minha janela. Estou tentando desinflamar os olhos. Não sei precisar quanto tempo durou o estado de inconsciência. Raios de sol inundaram meu quarto. Tudo estava tão limpo. Meus olhos seguiram a luz. Uma voz serena repetiu duas vezes o meu nome. Mãos invisíveis me dirigiam os passos. Parecia que a paz tinha sido concluída com o meu coração. Mas sei que a trégua é breve. E não aperto o passo. Eu nunca mais quero ouvir dos lábios dele esse tom frio com que me governa. Eu já não me importo com um monte de coisas. Não quero para mim o egoísmo de o reter aqui. Eu não tenho respostas. Não me atrevo às perguntas. As palavras se abraçam num tom de despedida. Dialogo com a sombra. É tudo verdade. Mas pra ser honesta, Senhores. Por mais interesse que eu tenha no passado. Prefiro o presente.

' Pipa

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