quinta-feira, 29 de julho de 2010
O plano era levar a vida com um zelo evangélico. Mas não deu certo. Ela era agora uma delinqüente ocasional. Que não sabia resistir à tentação de dançar tango como um cego. Ensaiando desgarres acidentais, ao sabor da ocasião. (Possessa) - "essa palavra em sua acepção vulgar, supõe a existência de demônios de uma categoria de seres maus por natureza, cujo grau de dependência de outro espírito deixa a vontade de qualquer um paralisado". Anotei ontem num guardanapo, na aula de filosofia jurídica. Guardo ou rasgo o guardanapo? Guardo. Ainda posso precisar dele para limpar outras sujeiras. Aquele Doce Novembro me vem a memória: "Será que a mãe dele sabe que trata as mulheres como prostitutas? Ou ele foi ensinado que ser gentil significa tratar os outros como lixo?" Mas que prazer é este de afastar as pessoas com as mãos? Eu não quero alcançar o poder tão cedo. Não vou correr o risco de me sentir maior que o mundo. É que meus olhos amanheceram mais agressivos que de costume. Ele não devia ter me acordado. Ele não merece nenhuma conta. E não precisa me levar não, eu vou embora a pé. Tem que haver um jeito de penhorar esses incontáveis maus dias. Tem que haver alguma coisa que estanque essa degeneração emocional. Que tire essa loucura de mim. Ao contrário, vou para o inferno. Eu não preciso de um médico. Preciso de um exorcista.
' pipa
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